"A vida é feita mesmo para se aprender -Chimarruts"
Ele abriu os olhos com um pouco de dificuldade e,ficou um tanto desnorteado antes de tomar consciência do que estava acontecendo.Esbocei um sorriso de orelha a orelha mas,após alguns segundos voltei a ficar séria novamente com receio de como ele receberia isso.
Então,só fiquei o observando enquanto ele analisava o lugar o qual estava.Depois de alguns minutos ele fixou o olhar em mim,o que fez meu coração parar de bater por alguns segundos.Um pouco relutante,tentei me convencer a apresentar-me a ele.
-Eu sou a Luna!-Tentei soar bem carismática e estendi a mão,mas,ao perceber que ele não conseguiria apertá-la,a retirei e a pousei em meu colo.
-Você também perdeu a memória?-Perguntei um pouco mais tímida.Seus olhos estavam cravados em mim.Aquele olhar causava sensações estranhas em meu corpo.Ele balbuciou um "não".
-Então lembra quem é você e como veio parar aqui?
Com dificuldade ele balançou a cabeça em sinal de sim.Revisei novamente os curativos improvisados que eu havia feito em cima de seus ferimentos e cortes graves.
-E você acha que conseguiria me contar?-tentei soar o mais simpática e entusiasmada possível.Se eu não me engano ele seria a primeira amizade a qual eu faria.Vai saber se ele já não me conhecia antes de nós dois virmos parar aqui?E porque será que só eu não consigo me lembrar de nada além do meu nome e,algumas coisas que aconteceram quando eu era criança?
Esperei ansiosamente a resposta que não veio.
-Tudo bem então.Não precisa me responder.-Peguei a garrafa que estava no bolso de sua mochila e andei até o mar.Peguei água e, o ajudei a tomá-la porque,ele mal conseguia manter os olhos abertos.
Acho que ele deve ter se batido em muitas rochas antes de chegar aqui.
Delicadamente,deitei sua cabeça novamente na areia e me sentei ao lado de seu corpo.Aquele homem devia ter uns 20 anos no máximo.Será que o que aconteceu com ele aconteceu comigo também?
Me levantei novamente e,procurei por lenha.A noite já estava próxima e,geralmente em ilhas -pelo pouco que eu me lembro-a noite faz muito frio.
Mal caminhei e,senti algo perfurar minhas costas,me fazendo ficar inconsciente.
(...)
-Vamos,Acorda!Hey?Luna?-Fui sacudida,estapeada e,mordida.Abri os olhos muito confusa e dolorida mas,nem por isso,quem quer que estava me sacudindo parou.Quando minha visão entrou em foco pude reconhecer quem era meu agressor.
O rapaz o qual eu havia ajudado.Sua expressão era desesperadora.Eu estava deitada na terra e,ele estava por cima de mim com as mãos ainda em meu rosto.
-Finalmente!Achei que já tivesse morrido.-estreitei os olhos.Ele soltou meu rosto e, saiu de cima de mim.Pude notar que não estávamos mais na praia da ilha e,sim na floresta.
-O que aconteceu?-Mal formulei a perguntei ele tapou minha boca com uma das mãos.Ele já devia estar bem recuperado para conseguir fazer tantos movimentos bruscos.Quanto tempo será que eu fiquei desacordada?
Pelo jeito que ele me olhou entendi que era pra mim ficar em silêncio.Ouvi vários passos e,vozes.Após muito tempo,quando o som parou,ele retirou a mão dos meus lábios e,se sentou.
Meu corpo doía muito.Pareceu que eu havia levado várias pancadas enquanto estava inconsciente.
-Índios canibais atiraram em você,te pegaram e a mim também já que eu me fingi de morto.Eles iam nos levar para algum lugar pra nos almoçar,o que demorou várias horas de caminhada e,durante esse tempo,por sorte,eu consegui me recuperar e eliminei vários deles.Daí eu peguei você,que por acaso não é nem um pouco leve,e consegui fugir pra cá.É bem escondido então,eles não conseguiram achar mais a gente.
Ele soou bem cauteloso.Parecia que não queria que ninguém ouvisse isso além de mim.
-E isso faz quanto tempo?-Perguntei e,tentei me sentar.Depois de muitas tentativas fracassadas ele me ajudou e,encostei minhas costas em alguma rocha.
-uns 5 dias.-Abri a boca desacreditando.Deve ser por isso que ele parece tão saudável e recuperado.Senti um calafrio em minhas costas.Deve ser o lugar onde entrou a bala.Levei uma mão até o local e senti um tecido o cobrindo.
-E você ficou aqui ,esperando eu acordar esse tempo todo?-tentei soar indiferente.
-É o que parece não?-Fiquei um pouco ruborizada.
-E agora,vai me contar quem é você e como foi parar na praia onde eu estava?-Ele sorriu.
-Só o que você precisa saber de mim é que meu nome é Jason Mccann e,que eu pulei de um helicóptero crente de que meu paraquedas funcionaria mas,não funcionou.
-E o que é um helicóptero?-Ele riu e jogou a cabeça pra trás.
-Você vivia aonde?Debaixo da terra?
-Não sei.Não me lembro.-Ele parou de rir e,me fitou.
-Você sofreu uma amnésia?
-O que é isso?
-Hum....é quando alguém perde a memória.Parcialmente ou totalmente.
-Ah.Então acho que eu tenho isso.--Peguei um graveto e,com os dedos brinquei com ele.
-Então você não lembra nem de como veio parar aqui?-respondi um "não".
-E do que lembra?
-Hum.....do meu pai,do lugar onde eu vivia quando tinha uns 5 anos e,algumas coisas que já aconteceram comigo.-Olhei para o meu corpo.Com certeza eu tinha muito mais que 5 anos.
-E onde vivia?
-Acho que....no norte da Finlândia.Lá fazia muito muito frio e,nevava constantemente.
-Então acho que você ficou nesse lugar até chegar aqui porque,pra vestir umas roupas dessas...-Ele riu mais uma vez.Não entendi o motivo da graça.
-O que tem minhas roupas?-Ele continuou a rir.
-Sei lá.São muito estranhas.
-Elas são feitas de pele de animal.Eu acho elas bem confortáveis e,normais.-Ele soltou uma risada estérica.
-Ok então mas,se você veio da Finlândia,como consegue falar o meu idioma fluentemente?
-Esse não é o idioma Finlândes?-Ele balançou a cabeça negativamente.
-Então é qual?
-Inglês.
-E como você sabe que é Inglês?
-Porque nós estamos em Londres.
-E onde fica Londres?
-No norte da América.
-E ela é perto da Finlândia?
-Não.
-E como você sabe que não?
-Por que não.Dá pra se ver claramente nos mapas.
-E o que são mapas?-Ele estreitou os olhos e, me encarou.
-São.....são mapas oras!-Assenti ainda muito confusa.
-Você ainda não me respondeu o que é um helicóptero.-Ele bufou.
-Não acho que você deve ter vindo da Finlândia e,sim de Marte.-Estreitei os olhos novamente,o que o fez rir.
-Deixa pra lá.Helicóptero é tipo um avião só que.....esquece.Você não sabe nem o que é uma canoa quanto mais um avião.
Tentei puxar em minha mente alguma outra lembrança mas,não consegui nada além do pouco que eu me recordava.Eu até abri a boca pra perguntar o que é uma canoa mas,resolvi ficar quieta.
-Já se sente melhor?-neguei com a cabeça.Eu ainda estava muito dolorida.
-Ok então,eu vou esperar mais um pouco.-Ele se deitou na terra.Estávamos praticamente em uma caverna.
-Pra quê?
-Eu preciso procurar algumas pessoas que também estão aqui.-Ele colocou o braço sobre a testa numa posição bem folgada.
-E....eu....vou com você?-Ele riu.
-Claro que não.Se você não se lembra de como veio parar aqui e,não tem nenhuma ajuda pra voltar de onde veio,a culpa não é minha.Eu nem conheço você.-Algumas daquelas palavras foram como facadas em meu peito mas,não demonstrei que ele me ofendeu.
-E,também,essas pessoas que eu vou procurar não vão gostar se eu levar companhia.Muito menos uma mulher das cavernas desprovida de inteligência que não sabe se defender.Ah,também,você pode ser quem nós estamos procurando então,se esconda bem ok amor?
Não entendi direito o que ele quis dizer então,preferi ficar calada e não me envolver mais no assunto.
-Pode ir agora,então.Não quero te "atrapalhar" mais.-Olhei para a direita.A entrada da caverna.O que tinha fora dela era deslumbrante e maravilhoso.Muitas plantas e flores de várias cores.Pude ver um laguinho e,milhares de árvores.
-Não vai me implorar pra te levar comigo?
-Não.Não depois de tudo o que você me disse.Prefiro ficar aqui e servir de comida para algum animal.
-Você pode montar um barco,se é que você sabe o que é isso,e navegar pelo mar até encontrar a cidade.-O ignorei.Comecei a sentir algo que nunca senti antes.um sentimento estranho,que me dava vontade de bater em alguma coisa e gritar.Acho que isso deve ser a famosa "raiva."
-Ok.eu já estou indo.-Ele se levantou e,limpou a sua roupa.-Se você precisar de água tem um lago bem ali,e,eu peguei algumas frutas pra você.-Ele apontou para um canto da caverna.-E,apesar de estarmos empatados,obrigada pela ajuda quando eu naufraguei.
Assenti mesmo desconhecendo a palavra.
-Então é isso.Tchau!Ah,e tome cuidado com os índios.-Eu olhei pra ele,sorri e,voltei a olhar para o vazio da caverna.
-Não fique assim.Com certeza alguém está procurando por você e vai te encontrar.-Assenti me contendo pra não chorar.Ele ia mesmo me abandonar?Mesmo sabendo no estado em que eu estou?E eu achando que ele poderia ser ao menos meu amigo.
Ele continuou a me olhar por uns segundos.Eu não ousei devolver o olhar.
Aos poucos,ele tomou coragem e começou a andar devagar pra fora da caverna.
Eu queria me levantar e o seguir mesmo sabendo que ele não queria mas,não tinha forças nem pra deixar a cabeça erguida.
Quando ele desapareceu de vista,uma onda de medo e desespero me consumiram.E agora?E se ninguém estiver me procurando?E se estiverem mas não pensem que eu estou aqui?E se na verdade,eu sempre estive aqui e,as minhas recordações fossem apenas sonhos?
Acabei adormecendo depois de muita luta contra o sono.Acordei não muito tempo depois, assustada com um barulho.
Alguém estava por aqui,disso eu tinha certeza.Os som dos passos aumentavam cada vez mais e,senti minha garganta dar um nó.meu coração batia freneticamente e,fiquei tensa.
Fechei os olhos esperando o pior.
-Luna?-Aquela voz me soou familiar.Até suspeitei de quem fosse o dono dela.
Abri os olhos quase sem expectativas.Ao ver quem era fiquei muito confusa e apavorada.
-Lembra de mim anjinha?